E o sonho continua
Portugal venceu a Rússia e mantém-se na luta por um lugar no Mundial. Nem um mau começo abanou a determinação lusitana em chegar à vitória
JOSÉ RODRIGUES
O sonho português de chegar à fase final da Taça do Mundo de 2007, a realizar em França, ganhou novo alento com a vitória sobre a Rússia por 26-23 (10-8 ao intervalo), corolário de uma exibição plena de alma, raça e orgulho de vestir e honrar a camisola das “quinas”.
Ontem, no Universitário de Lisboa, a Selecção Nacional assinou uma das exibições em que mais colocou todo o querer e vontade.
Era um embate de tudo ou nada, uma final, em que todos sabiam que cada erro teria um preço elevado – e os Lobos cometeram três falhas e “pagaram” com outros tantos ensaios – e daí algum nervosismo, alguma intranquilidade inicial.
O início do jogo não foi bom para Portugal, e um ensaio sofrido ao segundo minuto chegou para dar um “arrepio italiano” à assistência, que temeu o pior. Mas, desta vez, as coisas foram diferentes. A equipa esteve irrepreensível a defender e a placagem voltou a ser o trunfo luso no combate a uma Rússia que ainda trazia o sabor da vitória, em Junho, por 37-17.
Com calma e organização, os portugueses foram construindo o seu jogo, mas sobretudo foram ganhando confiança para partirem em busca da vitória.
O primeiro aviso
Aos 19 minutos, Portugal deu mostras das suas capacidades. Uma formação ordenada, com introdução de José Pinto, resultou na primeira jogada de ataque de grande qualidade. Saiu Vasco Uva com o apoio de Pinto, aparecendo ainda o ponta António Aguilar que, com uma forte arrancada, colocou a defesa russa em dificuldades. Era o primeiro sinal.
Portugal mostrava-se mais solto e perigoso e, dez minutos depois, numa jogada em tudo idêntica e quase com os mesmos protagonistas, juntando-se-lhes Pedro Leal, que no derradeiro movimento serviu Aguilar para mais uma arrancada e o primeiro ensaio luso, que Gonçalo Malheiro transformou.
Já sob o termo da primeira parte, a raça defensiva lusa teve uma excelente prestação, impedindo um ensaio mais do que feito aos rivais de Leste, permitindo conservar a vantagem na ida para o intervalo.
O recomeço foi em tudo idêntico ao início. A Rússia voltou a marcar e a reacção lusa repetiu-se e a partida ganhou vivacidade, mas sempre sobre grande equilíbrio.
A "explosão" portuguesa deu-se aos 70 minutos, quando Portugal passou para a frente com um ensaio de Diogo Mateus a coroar uma fabulosa arrancada de Marcelo D'Orey, cujos quase 140 quilos se mostraram imparáveis. O apoio de Mateus foi crítico e o ensaio fez pender o triunfo para as hostes lusas.
Depois seguiram-se dez minutos de grande sofrimento até ao tão desejado triunfo.
Agora segue-se a Geórgia, que derrotou a Espanha por 37-23.
Invasão de campo!
Nos minutos finais a ansiedade pelo termo do encontro levou a que, ao apito do árbitro para uma formação, alguns dos jogadores portugueses pensassem que o jogo estava acabado e levantassem os braços em sinal de vitória. Foi o suficiente para os ocupantes da bancada destinada ao público mais jovem invadirem, em massa, o terreno de jogo, lançando alguma confusão.
A comemoração foi, afinal, apenas adiada por alguns minutos, poucos, mas que pareceram uma eternidade.
Ficha de jogo
Local: Estádio Universitário de Lisboa
Árbitro: Peter Fitzgibbon irlandês)
Portugal 26 (10)
Pedro Leal; António Aguilar (5), Miguel Portela, Diogo Mateus (5) e Pedro Carvalho; Gonçalo Malheiro (3,2,3) (Cardoso Pinto, 3,3,2) e José Pinto (Luís Pissarra); Vasco Uva, Paulo Murinello (João Uva) e Diogo Coutinho (Sebastião Cunha); Marcello D'Orey (Juan Severin) e Gonçalo Uva; Joaquim Ferreira, João Correia e Rui Cordeiro (Cristian Spachuk).
Seleccionador: Tomaz Morais
Rússia 23 (8)
Dmitry Zubarev; Mikhail Babaev, Andrey Kuzin (5), Konstantin Rachkov e Vladimir Ostroushko; Korobeynikov e Viktor Motorin (3,3,2) (Vladislav Korshunov); Vyacheslav Grachev (5,5), Artem Fatahov (Alexander Shakirov) e Alexey Sarychev; Kirill Kulemin e Sergey Sergeev; Viktor Zdanovich (Vladimir Marchenko), Roman Romak (Oleg Shukaylov) e Alexandrer Khorin.
Seleccionador: John Groewald
Fonte: O jogo